Anderson Horizonte
"Não é o que você acredita. É o que você faz!"
Textos
ATO DE LIBERDADE: PARTE I (O PRIMEIRO ATO)
Ele se dirigiu ao púlpito, prendeu seu esboço de papel sulfite na base de madeira – posta para este fim -, levou as mãos a sua gravata slim, fez um último ajuste, bebericou a água mineral posta em uma base lateral do púlpito, fez, então, o ajuste fino na altura do microfone.
Atrás do orador havia um letreiro imponente escrito em Inglês:
“Sede da Organização das Nações Unidas” Também atrás da tribuna, havia um emblema das Nações Unidas forjado em ouro. À sua frente quase duas mil pessoas sentadas. O salão esbanjava um pé direito de vinte e cinco metros de altura. A beleza do mármore reluzia sob os olhares brilhantes das luzes – modernas - de LED do século XXI...
Ele pigarreou por duas vezes, foi o suficiente para o público de mais de cento e vinte (120) nações, tomarem atenção.

O homem que se apresentara para discursar parecia ter seus quarenta anos de idade. Cabelo bem cortado, barba cerrada, pele morena, tinha um maxilar proeminente, estrutura corpórea de alguém que se exercita regularmente. Seu terno slim, preto, vendia certo ‘status’. Vestia por baixo uma camisa branca e gravata preta, também, slim.
O homem assumia uma postura ‘fina, elegante e séria’ não havia nele um ar de superioridade, mas, sim, uma postura de quem iria falar e seria ouvido! Como já fora dito após o segundo pigarro, ‘pelo conjunto da obra’ ele havia ganhado a plateia.

Em inglês deu início ao seu discurso:

- Meu nome é Zaki, sou Africano, versado em ciências sociais e política. Também domino quatro idiomas, lidero em meu país uma grande organização não governamental, estou, hoje, com quarenta anos de idade e mais da metade da minha vida foi dedicada a ‘minimizar’ o estrago que a pobreza – por meio da corrupção – tem causado ao meu povo, ao nosso povo...
- Não sei se é do conhecimento de todos, mas cheguei até aqui por meio destes trabalhos – sociais – e por me considerarem uma figura representativa em meu país e também em outros - tão pobre quanto -, digamos assim.
- Esse evento tem suma importância e é transmitido ao vivo por alguns canais de TV e diversos pela internet. Talvez por isso eles leram e releram meu discurso – acho que estão com medo de um ato rebelde, daquele que é dado como o líder do povo desprovido de toda sorte de recursos – esboçou um riso ácido de canto. Este esboço – tocou suavemente o papel -, tem muita coisa escrita, confesso, mas não diz nada, não fala ao coração... palavras frias, talvez até... gélidas! Basicamente é o meu ‘curriculum’, e desde quando isso é relevante nesse momento? O que eu fiz aos 15 anos... aos 20, 25... Olhou para o folha fria, pegou, rasgou. Enquanto fazia isso encarava os lideres mundiais à sua frente.
– Sabe o que eles não leram e releram? – subiu a voz. – A minha cabeça – deu duas batidas com o dedo indicador, na testa. – Eles não sabem o que tem em minha mente – continuou. - E hoje falarei ao mundo com o coração – disparou.

Nesse exato momento um segurança falou ao rádio, olhando na direção de outro segurança, pareciam se comunicar – talvez prontos para intervirem, caso fosse necessário -. O orador foi incisivo ao dizer:

- Aos que se deitam na cama da luxuria e flertam com toda sorte de ‘imoralidade’, sintam-se à vontade para tirarem seus fones – disponíveis para tradução de áudio -, pois hoje eu falarei aos jovens; homens e mulheres, espalhados mundo afora – concluiu.

Nesse instante um segurança interveio, não contra o orador, mas, sim, barrou um ancião engravatado que parecia ter muito poder entre as principais nações do mundo. Outros trinta seguranças fizeram um cordão de isolamento que separava o palestrante dos lideres mundiais. Outros homens ‘truculentos’ que ‘vestiam preto’, fecharam as portas do salão, enquanto alguns outros tomavam os corredores entre as fileiras dos assentos. Sem que percebessem os aparelhos smartphone da ‘corja de ladrões’ já estavam inoperantes, graças a um ‘jovem adulto’, também, sentado entre eles, só que seu objetivo era manter seus programas no laptop funcionando, para bloquearem essas transmissões.

Parecia mesmo que tudo já estava planejado. Aquele seria o que Zaki chamou de; primeiro ato.

Os ‘donos do mundo’ sentiram-se acuados no salão, seus próprios seguranças criaram o cárcere momentâneo... Uma doce prisão de luxo com direito a um belo discurso, repleto de verdades. Um punhado de representantes da Europa e de outros países ricos optou por tirar o fone, mas nem seria preciso, eles dominavam a língua Inglesa...

A internet já havia feito seu papel divulgando e espalhando esse acontecimento – parte da equipe que se propusera a executar o ‘primeiro ato’ eram jovens hackers, estavam escondidos 'num porão' em algum país distante, bem longe de Manhattan, onde ficava o prédio da ONU.

Tudo agora teria que ser muito rápido. Então, sob os ouvidos e olhares do mundo, Zaki deu início ao seu discurso, ele sabia que seria sua única chance de unir os povos, tomar o mundo das mãos podres dos corruptos, milionários e acomodados políticos...

Encheu os pulmões de ar e bradou:

Tomaram posse de mais um território
A preço de vidas ceifadas... Desvanecidas.
Tão barato para os nobres. - Não é mesmo?
Tão heroico para os bravos. - Não acham?
Tão injusto para os felizes de coração. – pausou.
Tão triste para o povão! – continuou.
E com muitas vidas roubadas, sim, assim cresce mais uma nação! – exclamou com olhar fixo no líder da América.

Bela é a luta pela igualdade... Travada, também, em argumentos.
Pois, dos debates de praças públicas não se quebram seus juramentos. – seu olhar tinha fogo ao final desse trecho.
Que se lute pela liberdade! – Zaki olhou para a câmera que estava posta à sua frente.
Contra a fome e a injustiça. Contra a peste da corrupção! – esticou o braço e apontou para todos ali presente, da esquerda para a direita, evidenciando a culpa dos presentes.
Que se lute pela irmandade!
Pela saúde, pela família... – de punho cerrado golpeou o púlpito, olhando nos olhos dos lideres sentados na primeira fila.
Não se venda às trivialidades, não se percam em brigas mesquinhas!
Não lutemos por NAÇÃO.
Pois que seja; por NOÇÃO! – encarou a câmera que estava a direita, deixando claro que o recado agora era para o povo.
Ah, se a caso não queiram ‘gritar’, estudem para terem a ‘razão’. – ainda olhava para as câmeras.
E, sim, que as armas sejam palavras com retratos do coração! SOFRIDO? SURRADO? MAS AINDA ASSIM: ESPERANÇOSO DE VIVER DIGNAMENTE, EM PAZ E UNIÃO. - Ao terminar essa parte, Zaki bateu forte em seu peito, indicando estar carregado de sentimentos.

- A liberdade está logo atrás da porta da zona de conforto... Levantem-se do ‘sofá’. Lutem! Estudem! Amem! Respeitem! Dividam.
Vivam com propósitos e sonhos, pois talvez só exista o agora... Talvez seja só o hoje! – agora ele apontava para a câmera repreendendo os jovens e adultos do mundo todo, seus olhos vendiam paixão quando concluiu essa fala.

Bebeu um copo de água, respirou fundo, olhou no relógio... virou-se para trás. Um segurança que parecia ser o líder dos homens de preto colocou uma mão no ouvido, disse algo... abriu e fechou a mão por duas vezes na direção de Zaki, talvez indicando que tivessem mais dez minutos antes de terem de evacuar o prédio.

Lá fora, era óbvio que as forças armadas já se posicionava para entrar no prédio...

- O que irei ler agora é um compilado de cartas de crianças de varias partes do mundo, estas cartas estão todas em uma caixa gigante de madeira que intitulamos de:

Distúrbio total!

- A primeira é de uma menina africana; sobre ter se ‘acostumado’ com as perdas, ela escreveu:

‘‘Amores vão e vem!
Mas tudo que vai deixa dor... Se você a amou.
Acho que são somente as luzes que brilham intensamente”

- Ela era linda, mas era fria... gélida. Vocês arrancaram o coração dela – apontou para o ‘asilo de ladrões’ a sua frente.

- Um jovem da América nos escreveu:

“A paz que era pra reinar ficou pra trás.
O amor que era eterno já não existe mais?
O medo da repressão... O preconceito individual...  São armas coletivas!
O presente momento não te deixa escolhas.
Cada dia que passa se torna menos um!
Se tornar rico com os bens dos pobres... Se tornar poderoso com a força dos fracos... Virou rotina!
Mas o poderoso foi atacado.
E uma nova guerra se tornou visivelmente visível. Mas ela já existia há tempos!”

- O trecho a seguir como que usando uma adaga mística me cortou a alma – Zaki olhou na camera central e disse as palavras de uma criança de nove anos, sim, nove anos:

“Comida é jogada do alto como se fosse ‘caída do céu’.
Como sendo presente de Deus. Seria um presente de Deus? Acaba sendo!”

– Eu pergunto a vocês; se uma criança de nove anos consegue ter uma percepção dessas, um olhar destes... uma dor desta... como vocês conseguem continuar fazendo isso com o povo, com os velhos e com os novos? – Zaki apontava para todos os lados do salão cuspindo fogo. Olhou para a câmera – vejam vocês, ouçam o que está sendo dito, não é minha voz, são suas crianças... são nossas! – respirou fundo.

- De um garoto do Oriente médio – prosseguiu:

“Crianças manuseiam rifles...
Boicotes são armados para um distúrbio total!
Meus pés temem as minas. Minhas mãos tremem! Meu corpo morre todos os dias!
Mas a paz que era pra reinar? Ficou pra trás!
O amor que era eterno não existe mais!”

- Vocês são o mal. São maus! – Zaki olhava para o salão e gesticulava negativamente com a cabeça – olhou para a câmera e disse: são nossas crianças pedindo ajuda, e eles – apontou para o salão – eles não estão dispostos a ajudarem, pois os filhos deles – que não tem culpa nenhuma dos pais que tem, estão seguros.

- Para finalizar; uma carta de uma menina da América do Sul:

“Falta água!!! Falta dignidade! Falta emprego para meus pais. Falta saúde e segurança! Falta água dá pra acreditar? E muita ruindade no coração! Agora me pergunta uma coisa; pergunta pra mim, vai, se falta corrupção???”

- A menina grita por água. Água! Não é possível isso! – Zaki fitava os ‘sanguessugas’ sentados no salão. - Por essas e outras, hoje vocês foram julgados e sentenciados. – basta!!! – Apontou para a câmera centralizada e deu a ordem:
“vão e façam conforme nós combinamos talvez eu não esteja mais com vocês... mas essas palavram ecoarão pela eternidade... VÃO! FAÇAM!”

As perguntas sem respostas eram muitas.
Quem estava aguardando o sinal de Zaki do outro lado da tela?
O que eles deveria fazer?
Qual seria o ‘primeiro ato’?
Era um convite para um grupo especifico?
Ou esse convite de ‘VÃO E FAÇAM’ era pra nós – o povo?

Seria ‘isso’ o que muitos dizem chamar de a NOVA ORDEM MUNDIAL?
...

HOUVE UMA EXPLOSÃO NA PORTA PRINCIPAL!
ZUMBIDO. CORRERIA. CONFUSÃO... FUMAÇA!

DUAS LATINHAS ROLARAM POR UM CORREDOR SOLTANDO UM GÁS... A luz do prédio foi cortada e já era possível ver feixes luminosos de laser ‘cortando’ a escuridão. Pareciam estar em busca de um alvo. Eles queriam o alvo e não iriam se apagar facilmente.
Zaki não fora mais visto naquela confusão.

...
A SWAT ACABARA DE TOMAR O PRÉDIO DA ONU!



CONTINUA!?


Instagram @anderson_horizonte
Anderson Horizonte
Enviado por Anderson Horizonte em 28/02/2020
Alterado em 18/08/2020
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras