*imagem da internet
A Crônica do desespero de Frederico Pessoa II
Sentar-se para ler. O que é preciso para ‘sentar-se para ler’? Um banco e um livro diria uma criança. Não se estivermos falando de Frederico Pessoa II. Saberemos a seguir o porquê.
Era uma quarta-feira de um dia ensolarado, o ponteiro pequeno do relógio na parede apontava descaradamente para o número dez. Já o ponteiro grande, bom, o ponteiro grande estava caido ao fundo do velho relógio – naquela casa não havia controle de minutos, somente de horas -, foi nessa hora que o homem sentiu o primeiro ‘grunhido’ no estômago. Passados sabem lá quantos minutos veio o segundo ‘ronco’ das entranhas do ‘estranho’ sujeito. Ele sabia exatamente o que fazer naquele momento... Se alimentar? Sim, claro. Mas no caso dele, quando isso acontecia, o homem ‘alimentava a mente e a alma e não o corpo’.
Pegou o livro de sua ‘leitura atual’, uma belíssima obra de poesia – contemporânea -, sentou-se em sua velha cadeira, com o pé deu um ‘totózinho’ suave numa pilha de sete livros que atrapalhava o ‘tique nervoso’ que o homem tinha na perna direita. Cheirou o livro - pela milesima vez -, olhou pra capa, esticou os dois braços com o livro nas mãos, franziu a testa, virou o livro de cabeça pra baixo... e sorriu.
- canalhice das boas. Como não pensei nisso. Esse é dos bons. - riu mais uma vez, gesticulando ‘negativamente’ com a cabeça, incrédulo, sorria um riso de quem descobrira um novo planeta, olhando com uma luneta, pela janela do quarto.
O livro só tinha oitenta páginas, mas foi na trigéssima terceira que a ‘tragédia’ aconteceu. Lhe veio um belíssimo insigth. O homem, como sempre fazia quando isso ocorria, olhou pra cima e pra direita, só com os olhos, quase sem mexer o rosto – dizia ele que aprendera isso com o Batman. Sim, o super-herói dos quadrinhos. Frederico Pessoa II tinha os olhos esbugalhados nesse momento e seu sorriso começara a se abrir, tamanha a alegria pelo lampejo criativo.
Mas Frederico era ‘Frederico Pessoa II’ não à toa, ele era, tal qual teu pai e teu avô. O pai: Frederico Pessoa I, era todo destrambelhado, puxara isso do seu velho, o querido e estimado, senhor Tavares. Não, porque ele se chamaria ‘Frederico’ também? O velho era contador de histórias, era crônista e contista dos bons, só que resolveu criar uma ‘marca’ na literatura Os ‘Frederico Pessoa’! Até os dias de hoje é um mistério os porquês desse nome... Seu filho achou genial a ideia e deu continuidade a ‘marca’, assim, hoje podemos contar, ao menos esse episódio memorável na vida de Frederico Pessoa II.
- Onde eu estava? Ah, me achei... na página trinta e três...
O ‘processo criativo’ do homem o tomara de tal modo que sua perna começara a ter os espasmos que ele já conhecia bem, ele dizia que sua perna - quando fazia esse remelexo pra lá e pra cá – gostava de música eletrônica e quando bem entendia começava a dançar. De repente um poema que ele leu, lhe deu um gatilho, Frederico Pessoa II começou a pensar em uma crônica fantástica. Ele foi pensando nas linhas, na contextualização, rapidamente em sua louca e ‘apoixonada’mente’, desenvolveu quase todo o texto, só divagando... pulou da cadeira - sua perna direita acabava sua dança naquele momento.
- Papel, papel, papel... - Caneta, cadê a caneta?
- Um lápis então, pode ser um lápis...
Frederico Pessoa II amava sua ‘bagunça’, só a odiava quando tinha os ‘insigth e lampejos’ e tinha que sair as pressas procurando onde registrar seus escritos. Assim, pisoteou uns livros, afastou outros, escorregou num jornal aberto no chão, mas não caiu.
- Folha, onde tem uma folhaaaa? - Eu preciso de um lápissss. Onde eu coloquei o lápisss???
O homem, pra lembrar de onde tinha uma caneta e um papel, fechou os olhos, fez careta e, pensou ter se lembrado. Saltou por cima de um punhado de romances de época, e, quando pousou, tropeçou, então caiu. Bagunçou mais livros no chão da casa, mas isso não era o pior. ‘A tragédia’, como dito um pouco antes, fora que o herdeiro destrambelhado, bagunçara, agora, a sua cabeça, se esquecera de quase tudo que iria escrever - mais uma vez -, não achou papel e lápis... procurou um pouco mais, quando encontrou o ‘kit do escritor’ já era tarde... da crônica e do conto não lembrava mais nem do nome... eita homem!
Sem suas fantásticas memórias, mas com o lápis e o papel na mão, Frederico Pessoa II, escreveu o que lemos abaixo:
“Ainda conseguirei registrar numa folha, o meu primeiro ‘insigth’. Ainda escrevo minha primeira crônica, meu primeiro conto, numa folha de papel. Ah, disso eu tenho certeza!!! Preciso, urgentemente, bater o recorde do meu pai”.
Assim, Frederico Pessoa II, respirou fundo, ajustou suas vestes e sentou-se, com classe, na mesma cadeira de antes. Mesmo mantendo a pose, destrambelhado que era, ‘retomou sua leitura’, sem perceber que lia, agora, outro livro, também de poesias, mas... outro livro!
Por: Anderson Horizonte
Meu romance de estreia 'Rios de Lembranças' editora Chiado Books, 2021, está à venda nas principais livrarias e plataformas digitais. Gratidão!!!
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